As projeções para 2030 apontam o Brasil a produzir
60 bilhões de litros de etanol e perto de 10
bilhões de litros de biodiesel, participação de 23%
sobre os 300 bilhões de litros de combustíveis de
fontes renováveis previstos para a produção
mundial no mesmo ano.
O caminho para o crescimento do uso de energia
a partir de fontes renováveis está consolidado
no planeta. E o papel do Brasil nesse futuro, também.
A Agência Internacional de Energia estima
que hoje a energia renovável representa quase 15%
do total mundial. Sua previsão é que, em 2030, ela
represente 20% e, em 2050, mais de 30%.
Aos números projetados para os biocombustíveis
unem-se aqueles previstos para a produção
agrícola. Daqui a 21 anos, consideradas as nove
principais culturas plantadas no Brasil, que representam
quase 90% da área total, os solos brasileiros
entregarão ao consumo 585 milhões de
toneladas de produtos.
Claro que, para confirmar essas projeções, o
País precisará enfrentar obstáculos de grande
proporção. Vivemos um ciclo do capitalismo sujeito a trancos e solavancos do mercado financeiro
internacional, que, depois de descobrir as delícias
de ter por trás um Estado afável e mantenedor, parece
decidido a, em breve, voltar a destrambelhar.
No comércio mundial, a construção de mecanismos
mais liberalizantes é recebida na retranca dos
países desenvolvidos com chutões para a lateral.
Não raro, a perna de um país emergente vai parar
nas arquibancadas e os países pobres, que disputam
penosamente a Série D, no máximo conseguem
receber ajuda para comprar um jogo de camisas.
Subsídios e barreiras protecionistas não sairão
do caminho dos exportadores emergentes e pobres
tão cedo. A cada tempo, recebem novas e inventivas
fantasias e, nos concursos, suas performances
disparam no quesito originalidade. Verdadeiro
O Rancho da Goiabada (João Bosco e Aldir
Blanc, 1977) que une num mesmo bloco árvores
queimadas, trabalhadores esfalfados e chineses
mal remunerados.
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Recentemente, uma empresa
sueca foi proibida de instalar, numa pequena
cidade da Suíça, uma usina que importaria etanol
do Brasil para lá refiná-lo até os 100% de pureza.
Motivos alegados: a produção de cana é prejudicial
à saúde do trabalhador brasileiro e provoca
“poluições diversas”. Nada foi mencionado sobre
o irritante tiquetaquear dos relógios cuco.
Para os biocombustíveis também surgirão problemas.
Produtos de segunda e terceira gerações
são desenvolvidos dentro e fora do Brasil e a desproporção
na disponibilidade de recursos financeiros
e tecnológicos nos é desfavorável. Vêm aí
produtos com origem na biomassa da celulose e
de outros produtos florestais, de resíduos de culturas
agrícolas e de pastagens. Logo se consolidarão
como alternativas de mercado.
Esses são temas dependentes da forma como o
Brasil conduzirá sua política de relações exteriores,
arena em que o crescente número de contendores,
em dado momento, poderá eliminar até
mesmo a possibilidade da mais leve cotovelada.
Os caminhos recentes parecem, porém, corretos.
O número de países que atendem à nossa pauta de
exportação cresce a cada ano. Em 1996, o açúcar
brasileiro chegava a 31 países. Doze anos depois,
130 nações compraram nosso produto. Embora de
exportação mais recente, o mesmo está acontecendo
com o etanol, já importado por mais de 50
países. Esses mesmos sinais de diversificação percorrem
toda a pauta brasileira de exportação, sejam
de produtos primários, manufaturados ou industrializados,
do agronegócio ou não.
Se o Brasil ainda não é o “celeiro do mundo”,
será que, um dia, ele poderá sê-lo? Maior potência
agrícola mundial? Quando chegaremos a futuro tão nobre? Difícil dizer. Mais cômodo
prever que a predição se confirmará em alguns
itens e não em outros.
Hoje, a hegemonia da produção agrícola é dos
EUA. Na média dos dois últimos anos, entregaram
650 milhões de toneladas de grãos ao consumo interno
e externo. Cinco vezes a nossa produção. Fôlego
para crescer muito acima disso? Em princípio,
não. Falta-lhes área para expansão e seus níveis
de produtividade estão perto dos máximos. |
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