Fora da produção de grãos, a cultura da cana retomou
a relevância do passado, fato interpretado
por um tipo de análise infantilizado como retrocesso.
Seu cultivo proporcionou, na última safra,
660 milhões de toneladas de um produto de uso
múltiplo (alimento, combustível e energia). Flexibilidade
lucrativa nem sempre encontrada entre
os produtos agrícolas. A produção de 2008-2009 quase triplicou sobre 1990-1991 e a área plantada
dobrou com a perspectiva de grandes investimentos
voltados ao etanol.
A despeito dos bons resultados agrícolas, ainda
é frequente ouvirem-se perorações sobre uma dicotomia
que, supostamente, favoreceria as culturas
de exportação em detrimento daquelas para
abastecimento interno. O argumento é raso. O fato
de convivermos com o baixo consumo de alimentos
poucas vezes esteve ligado a um eventual desabastecimento,
mas sim à péssima distribuição de
renda e à falta de poder aquisitivo de grandes parcelas
da população. Com as políticas econômicas e
sociais praticadas nas últimas décadas, uma produção
maior de alimentos para consumo interno
teria gerado excedentes sem resposta de compra.
Prova disso são os exíguos níveis das importações
de produtos agropecuários, primários ou industrializados.
Desde 1997 elas têm sido decrescentes
ou estáveis, mantendo-se num patamar
médio de 8 bilhões de dólares, resultado do aumento
e da diversificação da produção nacional.
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Por seu lado, as exportações do segmento, no
ano passado, somaram quase 72 bilhões de dólares,
com uma taxa anual de crescimento próxima
de 11%. Sua participação sobre as exportações
totais variou entre 35% e 40%. É interessante notar que, a julgar pelo viés agronegócio vs.
agropecuária, há uma abissal desproporção
quando se compara a representatividade de ambos
sobre o Produto Interno Bruto. Enquanto
analistas cravam um intervalo de 30% a 35% na
participação do complexo agroindustrial, a da
agropecuária tem se mantido constante, em torno
de 5,5% sobre o PIB total.
É inegável que parte da expansão recente de
nossa economia rural se deve ao complexo sucroalcooleiro.
Desenvolvimento iniciado em 1975, quando
o Proálcool serviu de reação às crises do petróleo,
o programa perdeu força no meio do caminho
sem, no entanto, paralisar o trabalho de pesquisa, e
só retomou o vigor nesta década, quando a alternativa
das fontes renováveis de energia se tornou
uma exigência da preservação ambiental.
Segundo produtor mundial, atrás apenas dos
EUA, o Brasil gerou, em 2008, 26,7 bilhões de litros
de álcool, número que deve crescer 4,2%
neste ano. Mais modestos são os dados da produção
de biodiesel, que em 2009 deve chegar a
1,6 bilhão de litros. Projeto ainda recente, estimulado
pela obrigatoriedade de sua mistura ao
diesel de petróleo – base do transporte terrestre
brasileiro –, seu consumo tem dobrado a cada
ano. Somos o quarto produtor mundial, atrás de
União Europeia, EUA e Austrália. |
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