Durante décadas, sempre que alguém sugeria
que a saída para o Brasil estava em sua
vocação agrícola, muxoxos de discordância
emperravam a conversa. Borracha, cana-deaçúcar,
café, enfim, ciclos que acabaram em grandes
trombadas, eram mais do que suficientes para
desencorajar o determinismo.
Ainda que tardio, o furor industrial do pósguerra
chegava aqui e a agricultura tomava ares
menores na política econômica do País. Produzir
para comer, vá lá, não havia como evitar, mas
exportar sem agregar valor nos condenaria ao
eterno subdesenvolvimento.
Era tempo de substituir importações. Não
mais mandar cacau para a Europa e trazer chocolate.
Madeira por mobiliário inglês, nem pensar.
As maçãs vinham da Argentina, as ameixas
do Chile e, se bobeássemos, viriam parar aqui bananas,
abacaxis e todas as frutas que enfeitavam
o turbante de Carmen Miranda. Por certo, elas
seriam produzidas na América Central e Caribe
pela United Fruit Company, empresa que, na primeira
metade do século passado, abriu as portas
para mais de vinte intervenções do exército norte-
americano em países da região. A história é
relatada pela própria United Fruit Historical Society.
A lamentar, o fato de que, na época, os abacaxis
brasileiros eram invariavelmente azedos.
Talvez para não incentivar a tal vocação e tirar
o foco dos trilhos da industrialização, as atividades
agropecuárias nunca foram bem representadas.
Criado por Decreto Imperial, em 1860, como
uma secretaria de Estado, somente a partir de 1930 tivemos um Ministério da Agricultura. Em quase
150 anos de titulares e interinos, por lá passaram
200 secretários ou ministros. Poucos eram técnicos
bem preparados. Desde o início, quando a segunda
seção teve quinze anos de chefia do barnabé
Joaquim Maria Machado de Assis, a repartição
especializou-se em lidar com fraudes e ver na produção
rural e seus fornecedores más intenções.